Abri a persiana e fazia sol. Há já muito tempo que os raios de sol não me entravam assim pela janela do quarto, qual Agosto envidraçado.

Erradamente, o sol fez-me pensar nos dias de chuva. Nos dias poeirentos de vento, na sensação de impotência por baixo de três casacos nos dias de frio gélido. E isso traduziu-se em mil pensamentos sobre os dias em que o sol brilha mas por dentro temos três casacos vestidos para nos protegermos do frio da nossa alma. Sobre o calor agradável que cobre a chuva do nosso eu, que tantas vezes transborda sem querermos pelos olhos.


Sim, hoje está sol, mas eu estou coberta de nuvens. E não adianta ele brilhar com mais força, porque elas não se dissipam...

Sim, o Sol brilha, mas a sua intensidade não seca os campos inundados pela chuva dentro de mim.


Quem estará errado? O sol ou eu? Ou ninguém? Simplesmente o sol é um acessório fora do contexto neste dia. Mas amanhaã, nem que chova, hei de perpetuar esta sensação exterior de conforto para dentro de mim. E poderá fazer vento e estar frio, que andarei de alças com a cara banhada pelo calor hoje emanado.


Se não for amanhã é depois de amanhã...ou depois, mas será. Porque o sol, mesmo apagado, acaba sempre por vencer a chuva, o vento e o frio...