INTRODUÇÃO:

O meu alter ego chama-se Linda Inês e trabalha numa revista de moda. Não, não estou maluca, apenas escrevo, e às vezes sobre mim, sobre o mundo, sobre a vida, sobre trivialidades, outras escrevo como se fosse outra pessoa a escrever. Acho que não tenho dupla personalidade, mas...a Linda Inês existe. E eis a segunda crónica escrita por ela.



O calor desta manhã de Sábado não me deixa dormir mais. Levanto-me cedo, apesar de ontem ter tomado a firme decisão de que precisava de descansar, pelo que ia ficar na cama até me cansar... Parece que me cansei mais depressa do que esperava!

Hoje, especialmente, ele não me lerga. Sento-me no sofá a ler, vem para o meu colo. Vou à cozinha, enrola-se em mim enfatizando o maldito calor que me atormenta. Já o empurrei com o pé, já o enxotei e sacudi. De nada adianta... 
Alonso é persistente. Característica inerente à sua espécie. Quer carinho, tem que o ter. No minuto seguinte ignora-me. A sua identidade depende da sua dependência na independência.

Trouxe-o para casa ainda bebé. O meu gatinho Alonso é a minha fiel companhia (mesmo quando insiste em espetar as unhas na minha perna a tentar coagir-me a fazer-lhe festas). 

Acaricio-o. ele faz um delicioso rom rom, e quando estou a começar a gostar de brincar com ele, decide ser mais interessante perseguir uma mosca. Típico.

Pouso o livro e ponho-me a pensar nas minhas relações. O Francisco, web designer da empresa, é tal e qual como o Alonso. Andou imenso tempo a tentar convencer-me a sair com ele. Usou de toda a sua estratégia de sedução, até que acedi. Fomos ao Cinque Stelle, o melhor restaurante italiano da cidade. Foi charmoso e galante, mas um pouco...como dizê-lo? Melga. 

A partir desse dia começou a agir como o Alonso. Só não me saltava para o colo porque pesava no minimo mais vinte quilos do que eu... e eu enxotava. Afastava com o pé. E ele continuava a rondar...!

Rolando foi o oposto. Apaixonei-me pelos seus olhos verdes (clichet, eu sei, mas eram mesmo verdes!) na primeira vez que os vi. Ou na segunda, nunca fui muito boa com datas. Mas apaixonei-me. Comecei então a sondar: ele tinha acabado com a namorada há pouco e estava disponível. Pensei convidá-lo para um copo. Bebemos um cosmopolitan num bar chique que uma amiga me aconselhou. Beijámo-nos. E eu estava nas nuvens. Até que no dia seguinte, o encontrei a ter uma conversa muito...digamos...próxima com a Carla do atelier. Desde aí nunca mais me disse mais do que "Bom dia" (ou "boa tarde, dependendo da hora). Evidentemente, preferiu ir atrás da mosca...

E agora é Sábado de manhã e eu estou sentada no sofá a fazer comparações entre homens e o meu gato.  Talvez seja altura de me arranjar e sair, para tentar encontrar o verdadeiro gato da minha vida (sem desconsideração ao Alonso, claro).

 E na minha cabeça continua a redundar "homens...gatos...dependência...independência..."


Linda Inês