Pessoas enclausuradas
Na sua própria solidão!
Fumo na minha varanda,
E vejo, as janelas fechadas,
De casas cheias de tudo,
Pessoas cheias de nada...

Fumo, e vejo a passar
Sacos na mão, passo apressado
A caminho do trabalho
Mulheres com ar infeliz
Homens com ar resignado

Escravidão de uma cultura
Onde a vida é sempre dura,
Sonhar não é permitido
A felicidade é impura
Numa sociedade nula

O dinheiro é o motor
Da alegria, do amor,
E o tempo é a prisão
Dos que da infância trouxeram
Tantos sonhos de algodão...



Dormitórios arrumados,
Para ficarem fechados
Até o dia acabar...
E os filhos, arranjados,
Vêem os pais aos bocados,
Entre hoje e amanhã...

E os dias vão passando,
Como se não importasse
Que a vida se vá escoando.
Dá-se dinheiro a ganhar,
Pois o dia há de chegar!

E quando chega o tal dia,
Compra-se o que se queria
E logo se perde a noção, que
Tem que se voltar ao trabalho, à prisão
Para voltar a ter tudo,
Que será pra sempre NADA...!

E o tempo sempre a passar...

E o tempo sempre a passar...

E o tempo sempre a passar...

...até a vida acabar!