Cada passo que damos, mesmo que com a mais absoluta certeza, provém de uma indecisão. Talvez nem sequer a cheguemos a racionalizar, mas ela está lá, bem escondida por trás do que o nosso cérebro já comanda por instinto.
Podemos caminhar do lado direito ou esquerdo do passeio. Tomar café naquela confeitaria ao fim da rua ou naquele café mesmo ao lado de casa. Apertar bem os cordões ou fazê-lo à pressa. Tomar o pequeno almoço antes de sair de casa ou na rua. Ir trabalhar ou ficar a dormir, "doente" (doentes são aqueles que dizem nunca ter preguiça...). E tantas outras coisas, mais ou menos relevantes.






Agora reparem: Raquel acorda à hora certa para conseguir chegar ao trabalho a horas. Toma banho, lava os dentes...e de repente falha a água. Pode ignorar ou ligar para a companhia. Liga para a companhia, atrasa-se um pouco. Vê que tem uma mensagem irritante do ex-namorado. Penteia-se, põe aquele perfume que o ex odiava, só para se lembrar que quem o odeia agora é ela, aperta os cordões à pressa e sai, a passo rápido, em direcção à paragem do autocarro. Enquanto espera, tenciona comer algo na confeitaria no fim da rua. Caminha a passos largos, do lado esquerdo do passeio, a olhar para o chão. De repente tropeça. Alguém a impede de cair. Um desconhecido. Do lado direito do passeio não passava ninguém, e aquele desconhecido simpático mete conversa com ela. Tem um olhar arrebatador, e convida-a para recuperar do susto com um chá tomado na esplanada. Raquel aceita, e depois do chá decide ficar a conversar e faltar ao trabalho. Naquele dia conhecera o seu futuro marido, que mais tarde se revelou alcoólico e violento, e que fez com que a vida de Raquel acabasse no internamento do Hospital de Magalhães Lemos. Os três filhos que tivera entretanto foram entregues à segurança social, por maus tratos do pai e incapacidade psicológica da mãe.

Fim.


Agora...se a água não tivesse falhado, Raquel não teria apertado os cordões à pressa. Não teria pegado no telemóvel para ligar à companhia, nem visto a sms. Teria tomado o pequeno almoço em casa. Caminharia do lado direito do passeio para aproveitar a sombra. Não poria o maldito perfume, que o seu ex-namorado odiava mas o seu futuro marido adorou. E provavelmente, seria apenas mais um dia de trabalho, seguido de uns copos com as colegas, risos e o regresso a casa. Escolhas, racionais ou irracionais, serão o que muda o rumo das nossas vidas??? Ou será uma espécie de filme, para o qual o guião já foi feito à nascença, e que nos limitamos a protagonizar? O destino existe? Ou são pequenas coincidências que influenciam as grandes decisões?

Questões e mais questões...!

Sofia