"O Louco é o vigésimo segundo Arcano maior do Tarot, ou, simplesmente, o número 0, conforme os baralhos. Esta carta representa um jovem leve e solto, que caminha a tocar flauta. À sua frente está um precipício. Tem uma trouxa às costas, há uma borboleta que voa por ali e um cão que lhe morde o calcanhar(...)pode significar que o Louco partiu em busca de algo que procurava, como um desejo que de repente extravasa, uma busca que foi sufocada durante muito tempo."


Esoterismos à parte. A carta representa um jovem (que podia ser eu, ou tu) a sentir-se livre o suficiente para seguir o seu próprio caminho, mesmo sabendo que pelo meio podem aparecer alguns precipícios. Este está tão deslumbrado com a beleza da borboleta, que o facto do cão o estar a avisar que pode cair lhe é indiferente. Está inebriado, quase que enfeitiçado por aquele ser que esvoaça livremente, de uma beleza indescritível, despreocupadamente, como se o Mundo lhe pertencesse. No fundo, era assim que o jovem queria ser. Era assim que eu queria ser. Mas chamam-me, tal como a ele, louca.

O Mundo tem caminhos infinitos que podemos seguir.Fazendo um desenho mental, imaginemos rectas, cuzamentos, linhas paralelas, curvas apertadas, becos sem saída, linhas convergentes. Nós andamos por aí, por cima de todas elas. O jovem considerado "normal", segue pela linha recta, de preferência paralela à dos seus pais, ou a aluém que os seus pais gostariam que ele fosse. O louco não. Vira em cruzamentos com curvas apertadas, volta para trás por um caminho diferente quando encontra um beco sem saída, procura linhas paralelas concorrentes ou perpendiculares, ou seja, sente-se livre para fazer o que acha correcto. Não o que os outros acham correcto. E por isso é considerado louco.

Mas se pensarmos e imaginarmos que todos seguimos por linhas paralelas, há de haver alguém que segue a mesma linha em sentido contrário e aí talvez pensemos "olha!finalmente alguém no mesmo caminho que eu! Encontrei o amor"! E aí seguem na sua linha paralela, casam, têm filhos, casa, carro, lcd, playstation xpto, dinheiro, dinheiro, dinheiro. Mas sempre na linha recta. Os pais são elogiados " O sr. Almeida teve muita sorte com o filho que teve! Por acaso o rapaz é atinadinho, olha que casou com uma moça que é advogada e têm uma boa casa ali na Foz!". A questão é: são felizes?


Voltemos à perspectiva do louco. O louco VIVE. O louco tem sensibilidade e tempo para parar e olhar para a borboleta. Nem que isso apenas lhe traga um sorriso. É um momento de felicidade. O louco não procura o amor, o amor encontra o louco. E quando o encontra não é por acaso, porque caminhava na mesma linha que alguém. Quando o encontra é arrebatador, apaixonado, o louco faz tudo pela felicidade de quem ama. Porque, dando-lhe o nome que quisermos, encontrou a sua metade. Sem a procurar. Simplesmente porque ela também vagueava em busca de coisas bonitas e felicidade.

Podem ser também advogados, mas são-no por paixão à advocacia. Ou à medicina. Não por parecer bem, pelo status social ou porque os pais quiseram. Têm filhos, porque se amam, e os filhos vêm consolidar esse amor. Em vez de advogados, podem ser artistas, monitores de paintball, apanhadores de lixo, empregadas domésticas. Podem morar numa casa pequenina, sem lcd, sem playstation, mas de certeza que aquela criança vai ser uma das crianças mais feliz do mundo! Tal como os seus pais, um dia morrerão e sentirão que VIVERAM, AMARAM, SENTIRAM de verdade. E nunca lhes faltará o essencial: o amor. Claro que aí os vizinhos, nas suas linhas paralelas, gritarão uns para os outros "coitada da filha da dona Lurdinhas, vê lá, engravidou sem casar, anda aí nas limpezas, é uma desgraçada!" E a louca da filha da dona Lurdinhas conhece um sentimento que eles nunca sequer conseguirão entender, muito menos sentir. E nem sequer perde tempo que pode aproveitar a ver e fazer coisas bonitas com quem ama(mesmo que seja ela própria)com coisas irrelevantes de pessoas que foram ensinadas a ser como são e a criticar quem se atreve a não ser igual.

Esta divagação vem a propósito de uma frase que me foi dita hoje, que resumida diz que quando tudo acabar, finalmente as pessoas vão perceber que o dinheiro não se come.

Sejam felizes! Se precisarem pesquisem o verdadeiro significado de felicidade! Sabem porque é que 1/3 da população só na cidade Porto sofre de depressão? Adivinhem... Sigam os VOSSOS sonhos! E se me consideram uma louca...então sigam as vossas linhas rectas. Não vos censuro. Apenas somos diferentes, pela forma como deixamos sair de dentro de nós o verdadeiro eu...

Beijinhos e abraços de uma "louca" que gosta de borboletas e de amar...

Sofy