Existem várias formas de olhar para as coisas. Olhar por olhar, olhar de soslaio, olhar para ver, olhar com atenção, passar os olhos, contemplar, admirar, ignorar.
Mas todas elas têm algo em comum. Gastamos nem que seja um macro milésimo de segundo a processar que tipo de olhar vamos despender.
Olhamos e não há nada que nos interesse, o nosso cérebro percebe isso e prossegue. Olhamos e ficamos deslumbrados, aí sim, vale a pena gastar tempo a ver melhor.

No entanto esta questão do tempo é muito relativa. Se estivermos atrasados para ir trabalhar ou para apanhar o metro, podemos ficar fascinados com algo, mas não temos tempo de o olhar com a merecida atenção. E aqui dá-se o processo contrário: é o tempo que decide o tipo de olhar. Ou podemos estar sem nada de objectivo planeado para fazer, andar simplesmente a passear, e ficar a olhar para uma montra que, e aqui há várias hipóteses, não tem roupa nenhuma de jeito, não tem roupa nenhuma que possamos comprar por ser muito cara, não tem roupa que nos sirva ou que seja para a nossa idade. Enfim.

Lembro-me de uma ocasião em que gastei o meu tempo de uma forma que nunca esqueci. Algo aparentemente simples, e que provavelmente nenhum outro transeunte viu da mesma forma que eu.

Estava um senhor, estrangeiro, com um pequeno cão ao lado e um chapéu invertido para juntar algumas moedas, que tinha uma marioneta perfeita, uma boneca de porcelana a tocar violino, com um vestido comprido. Havia um rádio por trás a tocar musica clássica, e a boneca tocava na perfeição, com uma precisão de movimentos incrível. Sem me aperceber, mergulhei naquela fantasia, não haviam fios, apenas uma perfeita boneca de porcelana a tocar violino, graciosamente, numa rua onde passavam turistas e não só, cheia de movimento. E ela ali, grandiosa na sua pequenez, soava a uma melodia vinda de algo parecido com a ideia que temos do paraíso.

Não sei quanto tempo estive absorvida naquela confluência de sentidos, mas quando despertei senti-me tão bem, foi um momento de felicidade. E são tão raros momentos assim...

O tempo e a forma de ver as coisas podem nem sempre estar em consonância, mas há algo que só depende de nós, saber dar valor a pequenos instantes que nos colocam um sorriso no rosto!


Como aquela boneca de porcelana....


Sofy